quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Improvável

Olhou-me profundamente, de maneira longa e lenta,
Escancarou esta janela, que dizem, é a janela da alma,
Num lampejo de descuido viu no fundo dos meus olhos um último brilho,
Lançou-se no infinito escuro e tateou o além tentando me encontrar,
Sentiu um vulto que logo se transformou numa sombra, na penumbra, indistinto,
Tocou as mãos calejadas, duras e ásperas que pendiam incertas pelo ar,
Percorreu aquele corpo débil com suas mãos finas,
As pontas de seus delicados dedos iam revelando histórias que a vida deixara,
Sentiu cada traço que o tempo trouxe,
As cicatrizes espalhadas, nas pernas, braços, rosto,
A imperfeição de uma fratura colada incorretamente,
Percebeu a mente letárgica, um pouco confusa,
As olheiras que evidenciam os sonhos perdidos,
Os sonhos indo e vindo sem compromisso com a razão,
E era lágrima acumulada,
Era um respirar profundo num peito rouco,
Já não importavam mais as incertezas do passado,
E suas mãos já não procuravam mais respostas,
Agora a incerteza  se tornou afago,
O abraço, um aconchego,
A mente, ainda letárgica, busca conforto, silêncio e o que ainda há de vir...

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