segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Um ponto, afinal?

Tomou o papel em branco em suas mãos,
debruçou sobre a escrivaninha e respirou fundo.
Usou grafite, bico de pena e uma esferográfica,
marcou dois pontos distantes e traçou uma linha fina entre eles.
Planejou a rota, a parada, o livre arbítrio e fechou os olhos.

O papel em branco na mesa, sem margens, sem pautas.

A linha fina, tênue, traçada à frio,
imaginou dois pontos distantes e tentou uní-los.
Não considerou ventos, tempestades e noites sem lua,
criou intersecções, paradas obrigatórias e odes ao infinito.

Bebeu café, água, uma miscelânea de frutos desconhecidos,
Apontou o grafite, fez atalhos, pontos seguros e um coração.
Sentiu o ritmo mas não o pulsar, autômato.
Sentiu o vento contra e sorriu, efêmero.

A mesa, os traços e o papel ainda em branco.

A linha trêmula, imaginária, imperfeita,
saía de suas mãos, como palavras sem letras.
Errou em seus próprios atalhos, subverteu seu próprio caminho,
Riu e chorou, fez das lágrimas ácido que usou em sua aquarela.
Não tinha mata-borrão, não passou o rascunho à limpo.

Monocromático em todas as variações de tonalidade.

Seguiu em passos firmes seguindo sua debilidade,
vacilou em suas certezas e ignorou os pontos seguros.
Cegou-se à olhos vistos, engoliu o orgulho e as esperanças,
Imaginou dois pontos e encurtou o caminho.

Escolheu sem reflexão, palavras certas, erradas e lacônicas.

Desenhou uma linha, uma corda, um ajuste e desejou o infinito.

Quis ser forte, invencível, intocável.

O papel em branco, o medo, o desconhecido e um sorriso.
Débil, efêmero, vagou no espaço-tempo como se não fosse nada.
Definiu um ponto final, fechou os olhos, respirou fundo e sorriu.

Amém!

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